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- Elementos

Meu mar... na verdade nunca foi meu, como próprio mar sempre foi livre e um pouco de todos, no fundo eu sempre soube que ele jamais seria só meu. O mar ampliou meus horizontes, no começo foi difícil, tive muito medo de me afogar, mas como própria água ele me ensinou a fazer parte dele. Peguei confiança tanto nele quanto em mim e prossegui fluindo. No começo ele me fez feliz, me fez achar que era igual a ele. Mentira, sou água doce e ele salgada, entretanto não percebi, ou não queria perceber. Ele me prometia que não, mas eu sabia que as estrelas eram suas amantes, elas o tocavam durante a noite quando as nuvens se recolhiam. Era inevitável e me magoava, não era culpa dele mas eu não era obrigada a suportar aquilo. Nos separamos, tentamos e voltamos. Ele me convenceu que assim como eu era parte dele, eu era como ele, sendo assim poderia sentir as estrelas me tocar se quisesse. Aceitei por amor ao mar, pois jamais quis outra coisa além dele. Os dias passavam e eu só me magoava. Podia sentir cada parte de mim longe dele e aos poucos sem ele perceber fui me recolhendo para um pedaço de terra até que virei uma poça. De tanto tentar interferir acabei desistindo, o mar não queria mudar, ele era robusto, tinha ondas fortes que divertiam os surfistas e intrigavam os marinheiros. Ele queria mostrar a tudo e todos que não precisava de nada nem ninguém, usava uma atitude infantil para promover sua maturidade. Quando boa parte de mim havia deixado o mar ele deu falta do que havia perdido. Ele perdeu parte de si com suas aventuras no céu, deixou de viver na terra e buscou a ilusão. Pensei que havia recolhido para mim mesma a última gota de água e percebi que faltavam muitas partes de mim e se voltasse para buscar acabaria me ferindo mais ainda e talvez jamais conseguisse voltar. Também sabia que não tinha mais como eu ser quem era, de tanto estar com o mar já havia esquecido como era a serenidade de estar num poço ou de ser um lindo lago. Novemente foi difícil, difícil me adaptar novamente. Quando você tem oportunidade não quer voltar atrás, mas às vezes é necessário, principalmente se o seu mar for sagaz. Pensei em me matar, em pedir ao sol que me evaporasse e então eu seria mil e uma ao mesmo tempo, mas sem controle algum sobre mim, jamais teria como me juntar novamente. Pensei em me afundar no mais profundo da terra, atravessar o manto terrestre e adormecer eternamente por lá. Todas as alternativas viáveis, porém sabia que não valia a pena me machucar tanto por causa de algo que não soube me tratar bem. O que consegui pegar do mar eu havia pego e o que ficou eu achei que não faria falta então segui minha vida. Segui solitária porque não queria me envolver com mais ninguém, não queria sofrer denovo. Porém o que eu não percebia era que tinha alguém comigo o tempo todo e era ele quem me dava uma forcinha às vezes para ir onde precisava, subir barrancos, enfrentar cachoeiras e coisas do tipo. Esse alguém era o vento. A partir do momento que comecei a me recolher o vento observou, porque aquilo não era algo muito comum de se ver, as pessoas adoram o mar e ficam fissuradas nele, é por isso que todas as águas possiveis se juntam à ele. Mas eu estava cansada de ser iludida, enganada descaradamente com tanta falta de amor. Aquele mar frio, se ao menos tivesse águas quentes, mas era frio e egoísta. Segui sozinha porém acompanhada do vento. O vento, um elemento tão magnífico mas que passa despercebido por muitos, graças à quem o fez assim, ele é humilde, faz o que faz porque quer, ele é essência para muitos, guia o ar para os seres vivos, brinca com árvores, roupas no varal, cabelos e vestido de moças... se transforma num tornado ou furacão, trazendo medo e respeito quando necessário. Aos poucos, sem perceber o vento foi me conquistando, fui me entregando e passando a vê-lo como ninguém via, nem mesmo quem já havia pertencido à ele. Tive medo de seguir com ele, medo de ser feliz, medo de dar certo. Queria continuar tendo raiva de tudo e todos, mas se achasse alguém que fosse capaz de me amar e cuidar de mim seria obrigada à respeitar a natureza, e assim o fiz. Preferi o vento que à mim mesma. Na verdade o vento me escolheu, mais cedo ou mais tarde ele me teria. Quando pensei que era totalmente dele me lembrei que havia ficado um pouco de mim no mar e isso me impossibilitava de seguir em frente, me impossibilitava de ser feliz. Foi motivo suficiente para a ira e ódio que sentia do mar tomar conta de mim, voltei ao mar para pedir a mim mesma, convicta que conseguiria, mas ele me afogou com uma onda gigante que foi meu ponto fraco e me perdi profundamente nele. O vento não entendeu, me achou tão traíra quanto o mar e senti minha existência sem razão. Todos diziam as verdades do mar e o mar era o único a se defender, com mentiras, óbvio. Estava ficando louca, não sabia se queria as mentiras ou as verdades, uma vida de verdade é tão mais difícil, mais complicada, porém aquelas mentiras que ele lançava me matavam aos poucos, doce veneno. Revoltei quando soube que ele havia pego outra água para si também, jamais aceitaria dividi-lo com alguém como eu, eu sou única, no mínimo achava que era. Então vasculhei o mar por inteiro e peguei exatamente tudo que tinha de mim e fugi, fugi para bem longe. Tinha a certeza que ficaria sozinha, o vento me odiava e todos estavam ocupados com suas vidas, assim pensava eu. Ecoou pelos quatro cantos da terra toda a trama e o vento se reapromixou de mim, ele realmente gostava de mim. Agora não como antes, eu o conhecia e o senti perfeitamente. Voltamos a ser companheiros, porém com uma diferença, o amor. Ecoou pelos sete mares a junção da água com o vento e então o mar quis correr atrás. Suas estrelas, suas outras águas e tudo o mais não eram o suficiente para ele, ele queria saber que dominava a mim, uma simples água, e foi assim que tentou impedir, mas fracassou. Eu, como água, refleti o reflexo do mar, ele envergonhado do que viu retirou-se. Triunfo meu, triunfo nosso. O mar se aquietou no seu canto e eu cada vez mais apaixonada pelo vento. Cada dia ele me mostrava uma face, ora forte, ora suave e sempre me surpreendia. Vento, doce vento, vento brisa, vento barulhento, vento que assovia, vento que venta, o meu vento. Meu somente meu, os outros que o admirem apenas, porque esse vento é meu e dele eu não saio. Nos fundimos, somos felizes. Vento e Água, eu e você. O vento foi a melhor coisa que me aconteceu, com paciencia tirou meus medos e o sal que havia restado do mar, logo me senti eu novamente e graças me senti completa, pela primeira vez completa. Obrigada vento por ser tudo e nada na minha vida, só você sabe ser o oposto que me preenche. Minha metadinha da maçã, que vida longa teremos juntos, felizes, completos, sozinhos. Sozinhos porque não precisamos de mais ninguém, eu te tenho e me basta, te tenho e sou feliz, te tenho e fim.

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